Pirataria e vazamento de arquivos na impressão 3D
A gente sabe que pirataria não é algo novo. Seja nos filmes, jogos, softwares ou músicas, os mercados sofrem com essa prática ilícita, que, muitas vezes, faz as pessoas desistirem de um projeto de vida. Na impressão 3D não está sendo diferente. O termo “vazamento de arquivos” já é comum na comunidade.
Antes de seguirmos adiante, saiba que este post não é um “sermão”, nem mesmo um julgamento dessa atitude. Nossa intenção é tentar conscientizá-lo, uma vez que acreditamos que muitos participam disso ingenuamente, sem saber o dano que, de fato, estão causando para o mercado.
Dito isso, vamos em frente!
Hoje em dia, existem vários sites que disponibilizam modelos gratuitos na internet de forma legal. Nesses casos, os artistas modelam e, por motivos pessoais, decidem fornecer o arquivo final para a comunidade. O problema é quando isso acontece sem o consentimento do modelador.
Pense em algo que você realmente ama fazer. Se existe a possibilidade de gerar renda com essa atividade, certamente você gostaria de viver daquilo. E, qualquer tarefa que possamos fazer, por mais que amemos, sempre tomará o nosso tempo. Além disso, cada país tem sua realidade e sabemos que o dinheiro é necessário para vivermos. Isto significa que também precisamos de ganhar dinheiro!
Nós, da CO3D, nos sentimos responsáveis por falar sobre isso.
O contexto de hoje: grupos e compartilhamentos não autorizados
Algumas pessoas têm formado e fomentado grupos em todos os tipos de redes sociais, a fim de compartilhar arquivos adquiridos nos mais diferentes sites para impressão 3D, bem como fazer compras coletivas de arquivos sem o consentimento do modelador.
Os modeladores têm nos questionado com frequência sobre essas atitudes. Muitos acabam abandonando a impressão 3D e voltando aos seus trabalhos tradicionais. Nós (makers) somos os que mais perdemos…
Algumas pessoas podem questionar se não é possível fazer algo, como fechar os arquivos de alguma forma, pedir mais dados na hora da compra para saber exatamente quem é o comprador que estaria fazendo algo não autorizado com o arquivo… A nossa resposta é:
Existem alguns meios para isso, mas tornariam a compra tão burocrática que afastaria até mesmo os compradores bem intencionados e não teria uma boa eficácia anti-pirataria. Além disso, essa não é a forma que a CO3D acredita ser a melhor para lidar com essa situação.
Existem alguns meios para isso, mas tornariam a compra tão burocrática que afastaria até mesmo os compradores bem intencionados e não teria uma boa eficácia anti-pirataria. Além disso, essa não é a forma que a CO3D acredita ser a melhor para lidar com essa situação. Nós acreditamos nas pessoas. Por isso, estamos propondo uma mudança de mentalidade! Queremos conscientizar o mercado, apresentando como tais ações, que podem parecer pequenas à primeira vista, impactam na dinâmica de trabalho tanto daqueles que modelam quanto daqueles que imprimem.
Na CO3D , percebemos uma crescente desvalorização de produtos digitais. Apesar de existir a pirataria física (como discos de filmes copiados e etc), a pirataria de artigos digitais é mais forte, talvez pelo fato de alguém ter conseguido grátis e você se sentir no direito de agir da mesma maneira. Talvez você possa até se sentir prejudicado por ter de pagar por algo que alguém conseguiu gratuitamente, mesmo que por meios questionáveis.
E então, como isso afeta o trabalho no mercado 3D?
O impacto da pirataria: uma reação em cadeia no mercado 3D
A pirataria de arquivos 3D desestimula o trabalho dos profissionais em uma série de aspectos e isso é um fato!
Existem casos em que pessoas deixam de participar de uma campanha de arrecadação, pois acreditam que, em breve, aquele arquivo vai ser disponibilizado gratuitamente em grupos não autorizados. Isso faz com que o modelo não arrecade o suficiente, o modelador não forneça os arquivos e todos saem perdendo.
Não sabemos se isso acontecia com vocês, mas, pense no seguinte cenário: após uma discussão da criança com os pais, o filho diz: “mas fulano fez isso” ou “fulano pode aquilo”… A resposta clássica dos pais é: “mas, você não é fulano”. Às vezes a gente demora a assimilar isso, mas é verdade… Você é você. Aquilo que o outro faz, diz respeito a ele. Você não precisa fazer algo só porque outra pessoa está fazendo. É nessa hora que entra a nossa consciência e a nossa coerência. Quem é você no meio disso tudo? Ou, quem você quer ser?
Então, vamos ver este exemplo:
Você quer um modelo para produzir uma estátua para venda. Seu cliente vai comprar e, obviamente, vai te pagar por isso. Se o arquivo que você quer é pago, não seria justo honrar o trabalho daquele que te proporcionou a venda? Coloque-se no lugar do modelador, que vive da venda desses arquivos.
Isso também funciona para quando estamos fazendo uma estátua para nós mesmos.
Às vezes, queremos fazer todas as etapas de construção. Acontece que, por mais que tenhamos habilidades em todas as áreas, precisamos saber a hora de terceirizar.
Se você não tem a habilidade(ou pouca) de modelar seus personagens, vai precisar contratar o serviço de um artista especializado. Da mesma maneira que, se você não tem habilidade de fabricar uma resina ou um filamento para imprimir sua estátua, você compra de quem sabe fazer. Assim, você poupa seu trabalho e foca no que tem mais expertise.
Mesmo comprando o arquivo para imprimir uma estátua para sua coleção, você ainda economiza, pois se estivesse comprando a estátua dos grandes estúdios, o valor final seria muito maior do que você gastou produzindo.
Neste momento, alguns podem questionar o valor de um arquivo, mas gostaríamos de lembrar que as ferramentas da CO3D estão disponíveis exatamente para viabilizar esse custo sem prejudicar o modelador.
Por isso, é muito importante sabermos qual a origem do arquivo que estamos comprando, quem é o modelador e como podemos ajudar.
Vamos investir naquilo que beneficia a todos, não só na impressão 3D, mas na vida! Você precisa acreditar no que você faz.
As pessoas vão comprar de você, mas você precisa acreditar que esse mercado de venda é justo, ou seja, comprar de outras pessoas, assim como você também está vendendo. Fazer o trabalho continuar fluindo, deixar a coisa toda acontecer!
E para encerrar…
É comum ouvirmos por aí: “Vamos valorizar os modeladores nacionais! Eles precisam de ajuda, mas arquivos de gringos nós podemos compartilhar”. Os modeladores nacionais agradecem, mas, talvez, aqueles que falam isso não tenham pensado na realidade das pessoas ao redor do mundo…
Mesmo porque, trata-se, aqui, do mundo inteiro, então, estamos falando de países que podem ter até um IDH menor do que o nosso. Se você já pensa que não é justo fazer isso com seus amigos, você já está no caminho de pensar no ser humano, no próximo, independente de sua origem ou de sua realidade.
Há também aqueles que criticam a falta de direitos autorais em alguns personagens, com frases como “ele não pode vender isso sem os direitos da empresa” e colocam isso como motivo para distribuir gratuitamente.
- O primeiro ponto que gostaríamos de levantar aqui é: se ele tivesse os direitos, você não estaria fazendo a mesma coisa?
- Segundo: se ele obtiver todos os direitos, você compraria o arquivo (sabendo que possivelmente teria um custo maior ainda)?
- Terceiro: você realmente tem certeza que ele não tem esses direitos?
Por fim, se essa fosse mesmo uma justificativa, por que ainda acontecem os compartilhamentos ilegais de arquivos autorais do artista?
Mais uma vez, não estamos aqui para julgar tais atitudes, mas sim conscientizar nosso mercado, para que vocês entendam o que acontece e se perguntem se faz sentido para vocês. E, assim, vamos poder nos unir para construir uma comunidade mais justa e mais consciente, um passo de cada vez!
Ninguém está livre de ter feito algo sem consciência ou do qual não se orgulha na vida. Tudo serve de experiência e aprendizado! Mas a partir do momento em que você toma consciência a respeito das suas próprias ações e de seus impactos, você se torna responsável por modificar a sua realidade! Então, fica a seu critério seguir adiante com as mesmas atitudes ou não.